Uma criança feliz é aquela que brinca. Que canta, imagina e é audaz.
Tudo é simples como pó de magia, tudo é rápido, instantâneo e divertido. Novo. Uma aventura!
E eis que de repente, alguém “com cara de mau “ aparece com uma nova história, simbologia e filosofia e que nos diz que não se podem quebrar regras, nem cantar, nem sorrir, nem inventar e, sobretudo, descontrair.
Pior! Que me castiga, que me obriga, que me insulta, que me humilha, que me assusta com as suas nuvens negras e carregadas de impaciência.
Isto pode parecer um jogo de palavras mas, infelizmente, é muito real.
Não faz muito tempo, há umas semanas atrás quando me preparava para iniciar uma aula de inglês a meninos de 5 anos, tive de aguardar, com o coração na boca, que a professora regular terminasse de dar um sermão a uma menina que tinha errado uma conta de matemática. E, perante o testemunho do resto da turma, por meio de gritos e olhares ameaçadores, obrigava esta menina a refazer os cálculos em voz alta sob pressão de que, se não o fizesse rapidamente, a aula de inglês não começaria. Aproveitei a deixa para poder intervir, já que mencionava a minha aula, mas, confesso, gostaria de ter dado uma “rabocada” àquela senhora. E pensei: “ E pronto, dentro de alguns anos esta menina estará à procura de um terapeuta para a ajudar em bloqueios cuja origem ela não se lembrará de onde surgiram mas que estarão, sem dúvida, relacionados com aquela situação que eu acabara de testemunhar. E que deve ter sido uma de muitas. Pois, cedo percebi que aquela aluna costumava, por norma, estar distraída e revelava pouco interesse pelas aulas. E, quando uma vez lhe coloquei uma questão, sem sequer ter ainda ensinado o que eu pretendia, ela começou a chorar porque considerou que falhou, percebi que o bloqueio já estava criado. Se eu ainda não tinha explicado a resposta como poderia ela ter falhado?...
Cedo comecei a desenvolver estratégias leves e engraçadas com a ajuda de toda a turma para a motivar a participar e a não ter medo de errar. “ Eu sou a professora, estou aqui para vos ensinar. Se errarem a resposta é meu dever vos explicar”. Tornou-se praticamente um mantra meu para as aulas. Mas, e depois? Quando eu saísse porta fora? Como seria? Posso vos dizer que, mais tarde, foi um gosto ver aquela menina levantar a mão com ânsia de responder e participar entusiasticamente nas aulas. E era bem inteligente… mas escondia-se.
Mas voltando â matemática.
Não sei quando ou quem inventou que a matemática é uma disciplina que tem de ser ensinada como na tropa. Em que só os mais resistentes aguentam, neste caso, mais inteligentes, diriam eles, e que as pessoas que não conseguem aprender a efetuar cálculos ou raciocínios é porque não o querem. Pudera! Quem é que deseja ir para a forca? Para o exército, para a escravatura mental? A não ser que nasça já com o dom e paixão para a coisa.
Pois, então, se uma criança feliz é aquela que brinca, que canta, imagina e é audaz, eu terei de ensinar a matemática, ou qualquer outra disciplina, a brincar, cantar, imaginar e a ser audaz, ou permitir que o seja…
E é por essa razão que, muitas vezes, o sucesso dos resultados na disciplina dependem do professor que está a lecionar o que justifica o exemplo de alunos com notas altas num determinado ano letivo e depois elas baixam no ano seguinte, ou vive versa. Tudo depende de quem ensina, de quem explica de quem acompanha.
Resumindo, o seu filho não gosta de matemática por causa dos métodos de quem lhe ensina, e até me atrevo a dizer, devido ao caráter do seu professor. Mesmo que tenha menor ou maior capacidade de aprendizagem, essa é a verdadeira tarefa de um professor. Aprender a conhecer o seu aluno para lhe poder ensinar no seu próprio tempo a na sua própria” língua “e aí terá desempenhado o seu importante papel de transmitir conhecimento com amor e de contribuir para a cidadania do ser humano.
Por isso, vá. Conheça os professores que ensinam os vossos filhos, pois, se eles forem carrascos de alguma maneira, não terá como saber, porque a grande tendência é de o seu filho ter sido de tal maneira humilhado que agora tem vergonha de lhe contar.
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