Não é novidade para ninguém que as camadas mais vulneráveis da sociedade costumam ser quem mais, frequentemente, são alvo de abusos, sejam eles psicológicos, físicos, de cariz sexual, tráfico humano, etc..
Mas uma que muito me preocupa atualmente é uma que está bastante institucionalizada e que a sociedade até aceita como normal e, raramente, se atreve ou, pior, se lembra de denunciar; que é a praticada entre casais idosos, mesmo que seja violência apenas falada/verbalizada.
Nos dias de hoje, já é comum existirem campanhas a favor da proteção das crianças, das mulheres, e até dos mais velhos (de uma certa forma) quando são maltratados pelos próprios filhos. Mas, pouco se fala na violência exercida entre casais que é quando “ ele é que manda”, “ele” ou “ela” porque os homens também são vítimas; “eles” é que decidem, “eles” é que “não têm paciência para aturar”, estão sempre chateados e a resmungar, e a esposa como tem medo de que “ele” se zangue “cala e come" 1 porque é assim que tem de ser, é assim que costuma ser.
Estas relações com base em valores muito antigos do patriarcado, em que a mulher passa a pertencer ao homem quando se casa, são bastante visíveis nos casais mais velhos, em que têm mais de 70 anos mas continuam a dar ordens, a gritar a ameaçar e insultar a esposa. Nota-se, sobretudo, nas zonas mais rurais ou nos meios citadinos em que estão um pouco mais afastados do olhar público, mas; nota-se, sobretudo, em contactos de trabalho ou circunstanciais quando não estão a contar que serão abordados.
Tenho estado a matutar nesta questão desde o dia em que apresentei um serviço a uma senhora que ficou muito feliz e contente, e, quando estava a ponto de aderir, o marido rosnou pelas costas que ela não iria fazer nada… Senti-la pedir desculpas, “com o rabo entre as pernas” e muito incomodada, primeiro, com o comportamento do marido e, segundo, porque ela queria mesmo aquele serviço; doeu-me na alma. E isto é só um exemplo de vários casos!
O meu alerta é para que não façamos só campanhas pelo fim da violência doméstica entre namorados mas lembremos também que os mais velhos, embora se tenham casado em diferentes circunstâncias, vivem num presente com novas possibilidades.
Possibilidades de respeito, amor e carinho.
Poderão se questionar como o fazer… Pois, são questões culturais muito enraizadas e que não têm volta a dar!
Pois, eu digo: tudo muda no momento em que se começa a falar.
Assim sendo, mãos à obra!
Toca a começar a falar, escrever, compor, gritar, criar, o que for…Mas não permitam que continue a ser uma realidade em que as algumas mulheres ainda “ calam e comem”.
[1]Expressão portuguesa para alguém que aceita as direções de outra pessoa sem poder reclamar
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